terça-feira, 30 de julho de 2013

teu sorriso marcou aquele momento

Apareceste-me um dia sem eu dar conta de nada
teu sorriso marcou aquele momento, a tua entrada.
Desde aí, eu vi que tinhas algo em ti
que me puxava para ti, ainda me puxa por ti,
por ti eu aprendi a ser mais paciente
a aproveitar cada momento no qual eu estava presente.
Tu, és diferente já te disse, tu sabes
Tu, és doutro nível, és incrível, tu fazes com
que eu enlouqueça, dás-me a volta à cabeça,
não me lembro de contigo ter um dia só de tristeza.
À tua maneira, fantástica és simplesmente
verdadeira e mágica é como eu te vejo na mente,
no presente eu digo, podes vir para cá morar
abro-te as portas do meu orgão cardio-vascular.
Mudo o convite para pedido pois eu não resisto,
quero ter-te comigo, sabes que sem ti eu não existo!

Tu és tão tu, tu és tão eu
Eu sou tão tu, eu são tão teu
É estranho sentir isto e admitir pois eu venho
dizendo que não me quero prender mas agora tenho
não uma razão, mas sete milhões delas
para que a nossa vida não siga em linhas paralelas,
tinhas de aparecer na minha vida pois
fizeste com que 1+1 não desse 2,
somos um só ser, e eu quero ser
feliz contigo até onde der,
sem pensar muito no futuro apenas viver e aproveitar
o que a vida tem para nos dar.
É bom recordar o que fomos e ver o que somos neste momento
em que finalmente tento exprimir o que sinto.
Eu não minto quando digo que um dia
quero rimar, ver-te dançar com a nossa melodia.

Espera, pois isto ainda não acabou
eu sou o que tu és e estou onde estiveres
e não me interessam outras mulheres ou homens que surjam
pois só criam confusão.
Nós somos superiores a isso e tu sabes disso
pois o teu sorriso e o teu olhar atiradiço são tudo o que eu preciso,
eu pesquiso em cada poro do teu corpo
falsidade mas na verdade eu não encontro.
Conto contigo, aprendo contigo
quero ver até onde é que posso ser feliz contigo.
Sou teu amigo antes de ser teu namorado,
tua alegria ou abrigo naquele abraço mais abafado.
Em conclusão não diria perfeição,
digo antes triunfantes nesta pura relação que dura
Já não estou na procura, este puto encontrou
alguém a que possa dizer "sou o teu sou".

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Eu estou no topo do mundo

Se você ama alguém
Melhor dizer enquanto eles estão aqui porque
Eles podem simplesmente fugir de você
Você nunca irá saber se daria certo
Então, novamente, só depende de
Quanto tempo do tempo é deixado para você
Eu tive as montanhas mais altas
Eu tive os mais profundos rios
Você pode ter tudo, mas não antes que o prove
Agora leve isso, mas não olhe para baixo
Porque eu estou no topo do mundo,
Eu estou no topo do mundo,
Esperando sobre isso por um tempo agora
Pagar minhas dívidas para a sujeira
Eu estive esperando para sorrir,
Segurando isto por um tempo,
Levar isto comigo se eu puder
Tenho sonhado sobre isso desde criança
Eu estou no topo do mundo.
Eu tentei cortar esses cantos
Tente tomar o caminho mais fácil
Continuei aquém de algo
Eu poderia ter desistido logo, mas
Então, novamente eu não poderia fazê-lo
Eu viajei todo este caminho por algo
Agora leve isso, mas não olhe para baixo
Porque eu estou no topo do mundo,
Eu estou no topo do mundo,
Esperando sobre isso por um tempo agora
Pagar minhas dívidas para a sujeira
Eu estive esperando para sorrir,
Segurei isto por um tempo,
Levá-la comigo se eu puder
Sonhado isso desde criança
Eu estou no topo do mundo.
Porque eu estou no topo do mundo,
Eu estou no topo do mundo,
Esperando sobre isso por um tempo agora
Pagar minhas dívidas para a sujeira
Eu estive esperando para sorrir,
Foi segurá-lo por um tempo,
Levar isto comigo se eu puder.
Tenho sonhado sobre isso desde criança
E eu sei que é difícil quando você está caindo
E é uma longa subida quando você atingir o chão
Levante-se agora, levante-se, levante-se agora.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Dia de merda

Dia de merda
Sou meramente pedra prescindível do ciclo da vida
Em esforço para não ser perceptível
A ouvir a banda sonora que invejo não ser minha
Enquanto escrevo algo tão miserável como esta rotina
É impossível ser só eu, antes fosse
Que assim não vinha no comboio a fazer prova de esforço
Sistema nervoso a mil, estou cheio até ao pescoço
Sinto alergia e comichão, é infeccioso
Vejo o vazio em todo o rosto
Conversa do costume falta peso em todo o bolso
O Espirito está minado por um vírus ruinoso
Olho para cima, isto é o fundo do poço

Eles dizem: aproveita o tempo mas por dentro o temperamento
Não me deixa vislumbrar mais nada além de um céu cinzento
Dá-me cola trás um mento, quero efeito efervescente
Dissipar-me pelo espaço e ser levado pelo vento
Agora vejo como estupido sou
Cheio de obrigações a perder tempo nestas rimas
Um dia inteiro gasto a volta de um som
Que não me vai mudar o rumo nem me vai pagar propinas
Ainda assim escrevo na viagem e no carro penso
Só salvo o dia com o rap, 'tou-me a cagar
Quero é chegar a casa passar tudo por extenso
Peço perdão aos presentes, só vim ca desabafar

Ainda que sempre a vencer na raça
O que me ultrapassa vai sempre pesar no fim
Por vezes por mais que eu faça
É um desabafo a fazer o melhor por mim
Ainda que nada mais leve daqui
Já tenho a força para vencer no fim
Por vezes por mais que eu faça
É um desabafo a fazer o melhor por mim

E eles dizem: calma não está tudo perdido
Pois não pudera, eu respiro, nem isso é adquirido
É algo inato e garantido à condição de ser vivo
Tão diz la oh esclarecido, é suposto eu estar convencido?
Peço desculpa pelo meu temperamento
Num estado limite, tudo parece mais grave
Capaz de pegar numa serra e depois auto mutilar-me
Em nome do SWAG, do rap da moda e dos bicos de pato
Que agora tudo me sobe a cabeça
Enquanto pensas que não há motivo
Problemas não têm balança, saem feitos à medida
E o sofrimento é relativo

Nuvem de Fumo

Faz esse, pelo teu irmão aos 12 na fumaça
Faz esse, pelo teu pai a vender fora de casa
Faz esse, pelo teu filho a conhecer a desgraça
Faz esse

Lembro-me quando era miudo o meu pai disse-me um dia
Algo que ficou gravado na idade dos porquês
Se eu te apanhar a fumar vai haver pancadaria
Unica merda jeito que até hoje ele me fez
Porque, eu fui crescendo motivado pelo medo
Que....ganhou significado e tornou-se um principio
Enquanto puto a ve-los fumar beatas no intervalo
Eu sabia desde cedo q'aquilo ainda era o inicio
Hoje é ve-los a colar num outro vicio
Convencidos que lhes tras um beneficio
Ja perdi amigos nesse precipicio
Hoje é ve-los com um atraso de vida que é um suplicio
8 em cada 10 pessoas que eu conheço fuma
Quantas vezes fumei eu pra ser igual? nem uma
E não é puta da mania ou tar a dar pra especial
É simplesmente ter alguma consciencia social


A cachopada ta obcecada em ser da malta pesada
Em tirar dois bafos de paiva e andar toda pedrada
Com a vista deformada tipo que andou a porrada
Meu menino fosses meu filho e acabava a chapada
Mas...a culpa não é tua
É dos burros que deixam essa merda andar na rua
Que o fruto proibido ainda é mais apetecido
Legalizem a maria a ver se deixa de ser fixe ser bandido
O mundo ta perdido
Eles fazem sons de ganza faceis de entrar no ouvido
E isso é suficiente e torna-se um bom motivo
Pra fans ficarem um passo mais perto de serem iguais ao seu idolo
Posso até perder ouvintes e apoiantes
Vou continuar a ser depois aquilo que ja era antes
Que eu canto como se um filho meu ouvisse esta mensagem
Para vê-lo crescer homem a sério feito a minha imagem


Enquanto tu consomes mais aumenta a resistencia
E o corpo o vai pedindo mais com menos tolerancia
Sem dar por ela tas a entrar por uma dependencia
A pensar que deixas quando queres, numa de ignorancia
(Mas) Lido com a substancia
(Ha) Anos suficientes já vi manos levarem pais a falencia
É o ponto de partida para uma nova experiência
És mais influenciavel que a mente de uma criança
Não estou a dar uma de santo mas..
Só falo do que sei, tu fazes o que queres, para mim tanto faz
Já vi cachimbo da paz queimar a vida a muita gente
Que se julga imune ao fumo e é apanhado na corrente
Das o primeiro bafo aos 12
Aos 15 tas minado pelo brilho do cristal
Aos 18 o primeiro cheiro, sem vida como os que eu vejo
Que eu conheço muito zombie que anda armado em imortal

Conversa

Boa noite caro hiphop, então como é que tens passado?
Eu, para ser sincero estou um bocado preocupado
Ando atento a toda a gente que tem parado ao teu lado
E...se me permites, andas mal acompanhado
Cuidado, que, ja tens idade suficiente
Pra saber medir o amor que sente um pré-adolescente
Sei que é tentador o coro que te bate toda essa gente
Mas tu vais sair magoado quando os conheceres por dentro
Confia, não é má lingua, é realidade
Estão-se a aproveitar de ti e ganham fama com o teu rap
Sem saberem quem tu és e o teu passado
Eles pensam que te conquistam com algo tão futil como um snapback
E não tenhas pena, que eles nem sequer vêm mal
Usam armações de massa a ver se TU os vês melhor
Vão-te matando e temo ver-te no funeral
D'oculos e cap, calças justas e vestido de mil cores

Vejo o oposto daquilo que eu gosto e fico a sorrir
Sei que do fundo do coração posso confiar em ti
Assumo o meu posto e quase que aposto, estas a mentir
Porque ainda és vivo, e mantens o rosto que eu conheci

Procuram por-te numa montra com valores pouco em conta
pra quem cresceu contigo a viver a preço de custo
eles pegaram no teu grife pro vender de ponta a ponta
com um valor semelhante a peças de roupa de luxo
E esses putos, tão enganados quanto a ti
Só te usam pro egotrip nem se lembram de quem tu és
Pegam na tua figura e passeiam-te pelos amigos
A pensar que te conquistam com nikes caras nos pés
Tratar-te bem? nunca se deram ao trabalho
são os reis do secundário, mandam tudo pró...pró...
próxima vez que vais lá a casa, triste e pálido
sais rápido que eles só curtem a playlist da rádio
Outros têm vergonha de te apresentar
e os pais pensam que é culpa tua o filho andar-se a drogar
Vão destruindo tudo o que andas-te criar
Eu fico ca para te puxar a mão quando quiseres voltar

Eles não entendem que eu
Queira estar só, no meu...
Quarto a lutar por ti...
É que ninguém repara
Que se eu não dou a cara
Não há interesse...é só o amor por ti

Suor e Glória

Eu quero subir, mas não peço convites
Chegar onde eu quero, não vou lá com feats
Provar que é possível de bolso vazio
Não será mistério que eu não compro beats
Enquanto tu passas o dia so high
Estou que nem um cromo, do quarto eu não saio
A fazer as backs, escoar o suor
Até que o sol apague o seu último raio
Não tenho problema em mostrar o meu pensamento
O que falta, a fachada compensa
Uma grande casa paga por quem não está cá
Para ver o que falta na dispensa
Enquanto a mãe cala e pensa filho
Tenho o negócio preso por um fio
Acaba o teu curso, arranja um emprego
Que eu quero a reforma sem gasto contigo
Não estou confiante mas estou convencido
Que o futuro tem o meu sonho escondido
Guardado e à volta há uma caixa de vidro
Que pode quebrar sem que ele saia partido
E se é permitido ou ainda é legal
Continuo a ter a vontade na pele
Ainda que só no meu fato espacial
A andar por aí na bolha de Actimel
Não sou novidade nem alternativo
Tenho identidade sem estar enquadrado
Numa sociedade com um defeito antigo
Ficar a chorar o leite derramado

Enquanto meio mundo chora
E fica a espera de algo para mudar
A vida no seu rumo e agora
Diz-me de que vale ver-te a chorar
E enquanto isso meio mundo chora
E fica a espera de algo para mudar
A vida no seu rumo e agora
Diz-me de que vale ver-te a chorar

Sem álbum eu não tenho credibilidade
Nem qualquer atenção dos media
Ainda que um som meu seja mais trabalhado
Cuidado e suado que a discografia
Da maioria dos da praça
Que enchem o cofre com a prata da casa
Usam do rap pra fama e fumaça
E falam sobre isso tipo que nada se passa
Por isso para mim eu prefiro
Criar um coro que pareça um jingle
Ficar a soro depois de gravar
Mas estar consciente de criar um single
E pô-lo a rodar sem ver um tostão
Ficar animado com a reacção
Ninguém me conhece não é por decoro
É por algo mais que manos me ouviram
Saber que um dia algo mais chegará
Não ficar a espera e até la trabalhar
Deixar um legado que me possa honrar
Se houver um azar e amanha não voltar
Sem, atropelar ninguém
Traço o meu destino e la chegarei mal ou bem
Bom Karma a todos que me ouvem
Porque o mal sempre vem
Se procuras a glória na desgraça de alguém
Mantem-te puro porque sem atropelar ninguém
Traço o meu destino e la chegarei mal ou bem

domingo, 21 de julho de 2013

Este muro

Tenho a vista tapada por dois metros de betão
Este muro à minha volta tira a voz ao quarteirão
Cercado pelo meu muro no mundo da ilusão
Julgo ser o que não sou com voto de afirmação
A barreira que limita o que o mundo me entrega
É a força que me fecha na sombra que me cega
Protecção mal inventada, medo cresce no jardim
Relação fica cortada, falta água no jasmim
Embrulhado na rotina vejo a terra a secar
Há uma janela por abrir e uma cortina por fechar
Tenho a porta barricada, cada ferida é pedregulho
Cada gesto de afecto vira volume no entulho
Cobardia camuflada na postura reservada
É o medo de entregar e receber em troca nada
Perder o calor do dia enquanto pinto a alegoria
Onde há dois corpos sobre a cama a reagir em sintonia

Quero ver para além deste céu nublado
Quero ser maior que este muro alto
Ver a luz na sombra que me prende aqui
Ver pr'além deste céu nublado
Ser maior que este muro alto
Ver a luz na sombra que me prende aqui

Tudo vai por água abaixo, cada plano feito
Cada defeito vira estaca espetada no teu peito
Duvidas do teu valor, congelas a emoção
Aumentas o tamanho do muro que limita a acção
Num jardim cheio de terra, onde Inverno é todo o ano
Existe uma folha fria para cobrir cada plano
A parede está mais perto e a rua mais afastada
Na mesa da sala há só uma cadeira ocupada
Comes com o vazio e a comida sabe a nada
Afogaste o teu reflexo em água desperdiçada
Rompe o tédio com coragem, tira a corda do braço
É o amor que te liberta e tudo o resto é fracasso
Não ter hora para partir, não ter hora para chegar
É deitar abaixo o muro que não deixa a luz entrar
Num ideal mais elevado, ver o mundo acompanhado
E perceber que estar casa é um espaço a teu lado

Ergui um muro para ti.
Plantei-o quando partiste.
O meu reflexo tomou o teu lugar
E a mágoa dançou com o meu corpo.
Vi uma luz, uma sombra, um silêncio, um espaço.
Só um muro. Num espaço.
Num espaço. Sem um muro.
O que é que fazes quando o céu tocar no chão?
Será que gritas ou estendes a mão?
Eu vou estar cá p'ra ver o dia a morrer
Tudo é tão pouco quando o nada vencer

Vives tão ocupado que nem tens espaço p'ra ser livre
Julgas que a vida é tua, mas não és tu quem decide
O tempo ri-se de ti, és o bobo da parada
Olha p'ra ti insignificante, com esse tanto que vale nada
Adoras ostentá-lo, enche-te o ego e aquece a alma
Enquanto os traços do teu sonho se apagam da tua palma
O teu espírito enfraquece, cede a cada dia que passa
Já nem pões nada em causa, faz as horas, colhe a massa
És um cromo na caderneta desta colecção fatela
Que fica fechada na gaveta até ninguém se lembrar dela
Não és elite, esquece o grau, mostra o que vales de imediato
Não há CV, só o que se vê, esquece a cunha no contrato
Fazes da vida uma corrida em troféus que arrecadas
Mas vais de elevador porque dá trabalho subir as escadas
Fãs do que é fácil têm nojo do meu suor
E tremem a cada linha deste poeta sonhador

Vives para cumprir os objectivos de alguém
Passaste a ser o que produzes, fora disso não és ninguém
Vês tudo a acontecer sem fazer parte do acontecimento
És um papel amarrotado a ser levado pelo vento
Somas desilusões, aspirações que a vida enterra
Saboreias o desgosto que o teu coração encerra
És devedor a vida inteira, é suposto que o sejas
E vai faltar sempre um pouco para o tanto que desejas
Arrumas prémios em prateleiras desta sala fechada
E o que interessa está lá fora à tua espera na estrada
Demoras sempre mais um pouco e perdes tanto pelo meio
O que é feito da criança que sorriu no recreio?
Vejo o sonho desvanecer, querem limitar a acção
E a independência de outrora é somente uma noção
Este é o hino que faltava a esta geração à rasca
O grito mudo de um povo com vontade de dizer basta.

Enfrentar o mundo

Diz-me se vale a pena
Enfrentar o mundo
Combater numa batalha perdida
Ser a cor de uma rosa esquecida
Porquê ser mártir quando
O troféu é fruto de imaginação
Corta a corda que me prende ao cais
Deixa o vento levar os meus ideais
É um brilhar que se apaga
No balançar do tempo
Sinto o céu nos meus ombros
E tudo o que resta são cinzas

Diz-me então se vale a pena
Enfrentar o mundo
Ter de viver sobre as regras impostas
Ter de lutar contra mágoas opostas
Não quero ser mais uma
Numa sociedade de desilusão
Quero ser alguém de destaque
Alguém que acerta na porta de embarque

Já não sei o que fazer
Eu tentei de tudo
Não preciso que tu me julgues
Apenas quero que tu me ajudes
Não podes tentar ouvir
O que nos diz o tempo
Recuperámos de fases perdidas
Fomos heróis em tantas guerras esquecidas

Aguento a pressão, domino a pressão
Quem me quer ver de cara no chão
Punho levantado, queixo erguido
Honra e orgulho com que tenho vivido
Prefiro a insolência, dá-me o desgosto
Não vivo na base do que era suposto
Sou estrela na noite, sem aparato
Lua que brilha no anonimato
Patamar longínquo, alheio ao toque
Fotografia tirada em desfoque
Vazio em reflexo que enche uma tela
Visão cega da história mais bela
Não temo, não receio, mas sei
Vejo que ainda não encontrei
A paz no porto por onde vagueio
Acende o rastilho que agite este meio
Ambição é soberba, vontade é imensa
Escorre a paixão que a vitória compensa
Engano a corrente a cada detalhe
O rio seca à espera que eu falhe
Sou notado cunho naquilo que escrevo
Medido em altura, mas sem relevo
Pressão sufoca, rotina congela
Corro a cortina e abro a janela
Este quarto cinzento é um estado mental
Desvio padrão do fundamental
Solução não há, resposta divaga
Procuro o limite que o presente me traga
Nado no lago que nem colori
Sinto o vazio que outrora escolhi
Bato no fundo, sinto o impacto
Sou herói neste último acto

Entreguei o corpo

Entreguei o corpo às balas e segui atrás dum sonho
Mas acordei neste pesadelo medonho
A caminhada é longa e as pernas 'tão cansadas
De correr atrás de metas que não podem ser cortadas
É a casmurrice de braço dado com a teimosia
Caminhando estrada fora à procura da alegria
De uma vitória, com sentimento
Poesia com paixão imortaliza o momento
Afogado em memórias de velhas glórias
São tantas as histórias, mas tão poucas as vitórias
Mas eu faria tudo novamente
Seguiria as mesmas rotas, ousaria ser diferente
Para continuar de queixo bem erguido
Com o bolso vazio, mas com o espírito tranquilo
Olhar o espelho e encarar a realidade
O que o tempo não apaga é que eu sou livre de verdade

Tudo o que fiz eu vou recordar
Quando esta vida me levar
No coração eu só vou guardar
O que o tempo não apaga

Foi tanto dito, foi tanto feito
Uma banda sonora de mão no peito
Cultivei valores, defendi o meu sonho
Guardei o meu sonho, fiquei desfeito
Escrevi futuro, fui na conversa
Parei de ser livre, ser que não versa
Inspirei vontade, senti o carinho
Perdi a vontade, senti-me sozinho
Criei um caminho, sem aparato
Estrela que brilha no anonimato
Abanei presenças, tirei certezas
Fui vagabundo à frente de altezas
Julgaram que sim, pensaram que era
Vendido e cobarde, vírus na esfera
É paleio gratuito de pessoa que espera
Para não me vender assinei Kimahera
Apontaram dedos, engoliram em seco
Puxaram-me o braço, só levaram tecido
Na minha espiral, sou força vital
Guerreiro sem medo não é vencido
Sou adversário aos olhos que temem
O que sentes em ti, nunca foi segredo
Sou capaz de prever, antever cada passo
Não deixo ninguém pisar no que faço
A vida leva, o espaço é cruel
Enquanto te dá espaço, faz o teu papel
Na falta de estar, ausência domina
Partimos agora e o tempo termina
Tudo o que fiz é ponto cosido
Vou agasalhado com dever cumprido
No frio do vazio só fica quem
Não honra a memória nem coração tem...

as dúvidas do mundo

Tenho em mim todas as dúvidas do mundo
E quanto mais sei, mais tento evitar bater no fundo
Mas é difícil, adorava compreender isto tudo
Poder distinguir e saber a veracidade de um assunto
Somos peças controladas para evitar o tumulto
Vícios acalmam-nos e ajudam a apagar o rumo
E quando pensas que o teu caminho é lógico
Encontras um ponto onde duvidas de ti próprio
Diz-me, quem é que hoje em dia 'tá ciente?
Limitamo-nos a esconder os poderes como o Clark Kent
E nunca antes a BD fez tanto sentido
Vivemos a vida sem sair do quadrado atribuído
No fundo a verdade é que interessa por mais que digam que não
O problema é maior e não cabe numa rima ou canção
Deixo a pergunta: Ficas na gruta ou vais para á luta?
Já chega de calças que sirvam a mentiras de perna curta

Farto de viver de olhos vendados
Farto de saber que sou controlado
Farto de saber que estou limitado
Vou atrás daquilo que tenho sonhado

Fui atirado ao mar com os pulsos acorrentados
Com as pernas atadas e vejo preto de olhos vendados
Posso gritar à vontade, o meu sufoco não ecoa
Fita cola prende os lábios num grito que a nada soa
Sei que vou bater no fundo, mas vou tentar libertar-me
Perco os sentidos na descida e vejo a vida a escapar-me
Penso naquilo que queria ter feito, penso na vida que queria ter tido
Penso em ti e no tempo perdido, falta-me o ar, estou adormecido
Não tenho medo de nada, ninguém prende um conceito
Sai dessa caixa tapada, respira e enche o peito
E com força contrária, quebra a maré, define o teu trajecto
Fiz da voz a virtude que me levou alto p'ra longe de qualquer afecto
Regresso a mim, é o último olhar, a luz está perto da dor a passar
Ainda há tempo, liberto o poder, quebro a corrente sem nada temer
Vejo a luz e subo, oxigénio volta ao meu pulmão
Agora sei voar, mas nadar é a salvação

Enquanto não fores tu próprio nunca vais ser ninguém
Enquanto não brilhares vais viver na sombra de alguém

Esta noite adormeci

Esta noite adormeci com as costas na areia
E caído neste sonho fui mendigo que cambaleia
Sem meias e descalço, não preciso do conforto
Quero sentir a areia fria nesta noite de Outono
Cada passo fica marcado num destino adormecido
E lavado num mar de lava, o vencedor fica vencido
Coberto pela sombra sei que a lua hoje não brilha
Não há reflexo no mar, só areia na sapatilha
Hoje passeio sozinho, oiço temas do passado
Saio de casa a meio da noite para ir a nenhum lado
Vagabundo em cada verso, vejo a luz por entre os dedos
Barcos partem para longe, mas deixam ficar os medos
E o medo de falhar é tanto que tentar já não me tenta
O coração vai congelando enquanto a idade aumenta
Água toca-me na perna, estou quase a despertar
E sinto-me tão quente no meio do frio familiar

Vejo noites e marés
Frio é fogo que me aquece
Tenho água pelos pés
Sinto a dor que não me esquece

Puxado pelo sonho, volto a cair no mesmo embalo
Quanto mais ando menos sinto e oiço pouco do que falo
Os lábios já não mexem, mas os gritos continuam
Caminho para longe, mas estas vozes não atenuam
Sinto que alguém me segue sem pisar onde eu piso
Vejo estrelas apagarem-se na sombra de um sorriso
A maré colhe a esperança ou o que restava dela
E a força foi raptada, levada num barco à vela
Enterro o pé no meio da espuma, cinzenta a esta hora
E cada concha é um aplauso na saudade que chora
Tenho sede e tenho sal, preciso de água e tenho tanta
Sou um castelo na areia onde não cresce uma planta
Ao olhar para trás, vi que a areia estava lisa
Senti um arrepio num frio que paralisa
Percebi que não andei, acordei onde ficara
E de costas na areia, tinha areia na cara.

O que é que fazes quando o céu tocar no chão?

O que é que fazes quando o céu tocar no chão?
Será que gritas ou estendes a mão?
Eu vou estar cá para ver o dia a morrer
Tudo é tão pouco quando o nada vencer

Vives tão ocupado que nem tens espaço p'ra ser livre
Julgas que a vida é tua, mas não és tu quem decide
O tempo ri-se de ti, és o bobo da parada
Olha para ti insignificante, com esse tanto que vale nada
Adoras ostentá-lo, enche-te o ego e aquece a alma
Enquanto os traços do teu sonho se apagam da tua palma
O teu espírito enfraquece, cede a cada dia que passa
Já nem pões nada em causa, faz as horas, colhe a massa
És um cromo na caderneta desta colecção fatela
Que fica fechada na gaveta até ninguém se lembrar dela
Não és elite, esquece o grau, mostra o que vales de imediato
Não há CV, só o que se vê, esquece a cunha no contrato
Fazes da vida uma corrida em troféus que arrecadas
Mas vais de elevador porque dá trabalho subir as escadas
Fãs do que é fácil têm nojo do meu suor
E tremem a cada linha deste poeta sonhador

Vives para cumprir os objectivos de alguém
Passaste a ser o que produzes, fora disso não és ninguém
Vês tudo a acontecer sem fazer parte do acontecimento
És um papel amarrotado a ser levado pelo vento
Somas desilusões, aspirações que a vida enterra
Saboreias o desgosto que o teu coração encerra
És devedor a vida inteira, é suposto que o sejas
E vai faltar sempre um pouco para o tanto que desejas
Arrumas prémios em prateleiras desta sala fechada
E o que interessa está lá fora à tua espera na estrada
Demoras sempre mais um pouco e perdes tanto pelo meio
O que é feito da criança que sorriu no recreio?
Vejo o sonho desvanecer, querem limitar a acção
E a independência de outrora é somente uma noção
Este é o hino que faltava a esta geração à rasca
O grito mudo de um povo com vontade de dizer basta.

Tou a cuspir

Tou a cuspir os ossos, posso senti-los a trespassar-me
Tão a rasgar-me o pescoço, fica difícil falar-me
Cheiro a vazio por dentro, ninguém 'tá interessado
Como chuva num dia cinzento, eu só importo aos inspirados
Constrói o que tu queres, mas eu não sei o que é que eu quero
Arranquei três malmequeres, eles não me querem e eu quero
Tenho a mão cheia de neuroses, tenho os chacras desalinhados
Tenho feridas pelas costas, cozes, ou abres os cortes de lado?
Eu sinto que não sinto, é triste
Sou um furo sem piercing, existe
Disse-te para não caíres, caíste
Disseste que ias ficar, mentiste
Mentiste também no resto e o resto nem era nada
Eu não presto, ninguém presta, ou sou uma besta ou uma iluminada
Pari metade de um coração, então não olhes assim para mim
A vomitar bocados de memórias junto a panos de cetim
Partilho-me com a solidão, eu não sou como a vaca que ri
Eu tenho a faca e o queijo na mão, no dia a seguir eu já parti...

Fui deixado num beco sujo à minha sorte e desgraça
Moro numa rua escura por onde a luz já não passa
Água escorre e não lava, água passa e não leva
Estou fechado num elevador que sobe, mas não me eleva
Arranco cabelos da nuca, tenho força que nem sabia
Molduras na parede pregadas a utopia
Cheira a perfume pela sala, tenho engano nos pulmões
Vou atirar-me da varanda, libertar-me de ilusões
A morte é ilusória, esta prisão é redundante
Acorrentei o que sentia num paladar agoniante
Sou um vulto atrás de ti, vibração que nem propaga
Falho em tudo e sou tão pouco que para contar um zero dava
Vernácula loucura, sou tão sóbrio que chateia
Intenso na narrativa, sou tensão que se passeia
Rodeado pela miséria, sou refém da ignorância
Por mais brilho que emane, sou apagado desde a infância

lembra do arrepio

Quem não se lembra do arrepio, daquele primeiro som?
Falsos Amigos, Sem Cerimónias, És Como Um Don
Foi o início desta história, de certo parecida à tua
Usei estrelas para escrevê-la e pedi segredo à lua
Cresci a ouvir tantos e tão poucos são referência
Obrigado aos que inspiram, são marca na existência
Outros que "faziam por amor", perderam a paixão
Viram a relação transformada em profissão
Procuraram o sustento na admiração de quem adora
E desculpam o insucesso na plateia que foi embora?
Quem voa com o vento um dia cai com a chuva
Sujaram água limpa e beberam água turva
Chamaram-lhe evolução, foi poeira na visão
Brincaram com o interesse e arrumaram a emoção
Depois vieram os videoclipes, gostas ou não?
Tremenda falta de conteúdo em alta definição
Trouxeram patrocínios, idiotas patrocinados
Falam da vida complicada com cem euros calçados
Voltemos ao primeiro dia, ao ponto de partida
Ao arrepio mais importante que sentiste na vida

Vou levar o Hip-Hop de volta ao tempo em que ele era amado
Onde um jovem tinha um sonho que era ter um som gravado
Ao tempo em que um beat me obrigava a ficar acordado
Quando a noite era berço para um poema cantado
Quando isto era sentido e rimas batiam no fundo
Quando um verso congelava os segundos do meu mundo
Quando tudo parava e ficava fechado no meu pensar
Quando a mensagem passada fazia o mundo mudar

Educado em poemas não me revejo na vossa prosa
"Num abrir de olhos desperto a chama airosa"
É o regresso à definição, genuíno desde então
Onde a falta de condições nunca foi limitação
A vontade prevalecia, passados anos quem diria
Tantos clássicos gravados e a Kimahera não existia
Promoção também havia, era diferente da partilha
A qualidade do trabalho é que ditava quem te ouvia
Se fosses bom ao vivo, podes crer que a casa enchia
No silêncio depois do beat era o orgulho que aplaudia
Mas a convite do fracasso, fui de volta à realidade
Foi sozinho num improviso que conquistei uma cidade
No palco acarinhado, fui o sonho que projectei
Vi-me a mudar o mundo como sempre desejei
Depois e sem paixão, vi a mensagem ser levada
É tão raro um arrepio no meio de tanto nada

Foi num quarto que eu criei o meu primeiro clássico
Com um mike e uma meia fiz magia sem ser mágico
Com um orçamento reduzido
O amor à camisola foi o meu único incentivo
Cair e levantar, levantar e cair
Ouvir palavras negativas que te obrigam a desistir
Voltar à estaca zero, nascer outra vez
Reviver o arrepio da nossa primeira vez
O amor por uma cassete ouvida vezes sem conta
Ficou perdido como o menino que perdeu a sua sombra
Os sonhos e a fantasia perderam o seu lugar
Foram trocados por objectivos e a obrigação de triunfar
Então vivem como pássaros presos numa gaiola
A porta está aberta, mas não voam dali para fora
Vejo a falsa liberdade espelhada na sua música
Reféns com fome das migalhas da Indústria

Vi morrer um verso

Vi morrer um verso numa folha ignorado
Vi nascer o vazio a cada poema calado
Fiquei sem respirar, desamparado no chão
A contar estrelas reflectidas numa estrada de alcatrão
Sinto olhares da janela a somar cacos do que fora
E esta soma negativa inspira gente lutadora
Foco o pouco que ainda vejo, o que avisto não me agrada
Vi crianças serem homens numa rua que se degrada
O mundo não mudou, ainda condena quem tenta
Vejo ganância e interesses benzidos com água-benta
Vi o mundo a metade, tiro o chapéu e vejo o resto
Nem viste metade do meu mundo e anuncias que eu não presto
Enquanto pisas uma flor, há uma nova que germina
Se não sabes para onde vais, esta rua não termina
Ainda tenho o mesmo sonho, desde pequeno que me conforta
Hei de voar em colorido até ser uma pessoa morta.