domingo, 21 de julho de 2013

Tou a cuspir

Tou a cuspir os ossos, posso senti-los a trespassar-me
Tão a rasgar-me o pescoço, fica difícil falar-me
Cheiro a vazio por dentro, ninguém 'tá interessado
Como chuva num dia cinzento, eu só importo aos inspirados
Constrói o que tu queres, mas eu não sei o que é que eu quero
Arranquei três malmequeres, eles não me querem e eu quero
Tenho a mão cheia de neuroses, tenho os chacras desalinhados
Tenho feridas pelas costas, cozes, ou abres os cortes de lado?
Eu sinto que não sinto, é triste
Sou um furo sem piercing, existe
Disse-te para não caíres, caíste
Disseste que ias ficar, mentiste
Mentiste também no resto e o resto nem era nada
Eu não presto, ninguém presta, ou sou uma besta ou uma iluminada
Pari metade de um coração, então não olhes assim para mim
A vomitar bocados de memórias junto a panos de cetim
Partilho-me com a solidão, eu não sou como a vaca que ri
Eu tenho a faca e o queijo na mão, no dia a seguir eu já parti...

Fui deixado num beco sujo à minha sorte e desgraça
Moro numa rua escura por onde a luz já não passa
Água escorre e não lava, água passa e não leva
Estou fechado num elevador que sobe, mas não me eleva
Arranco cabelos da nuca, tenho força que nem sabia
Molduras na parede pregadas a utopia
Cheira a perfume pela sala, tenho engano nos pulmões
Vou atirar-me da varanda, libertar-me de ilusões
A morte é ilusória, esta prisão é redundante
Acorrentei o que sentia num paladar agoniante
Sou um vulto atrás de ti, vibração que nem propaga
Falho em tudo e sou tão pouco que para contar um zero dava
Vernácula loucura, sou tão sóbrio que chateia
Intenso na narrativa, sou tensão que se passeia
Rodeado pela miséria, sou refém da ignorância
Por mais brilho que emane, sou apagado desde a infância

Sem comentários:

Enviar um comentário