Desfoquei o olhar no que fazia.
Num ápice, o pensar saiu de mim.
Passou na música, na poesia,
E parou no meu futuro, enfim.
Viu o que será feito deste homem,
O que tem – tenho – por fazer ainda.
Viu que os que plantam não são os que comem,
Que a arte é pão incerto, mesmo linda.
Viu que viver compondo e versejando
É ir vivendo só no oceano
E, só no oceano, ir nadando,
Vendo o só esbracejar de um humano.
Viu que era eu quem, só, se afogava,
E eu logo quis rasgar o pensamento.
Acordei da mágoa que me inundava
E agora, p’ra não perder o alento,
Tento esquecer aquele mar de lava
Que era a vida no seu traje cinzento.
Mesmo sendo como o pensar discorre,
O que será de mim se o sonho morre?
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